Doutorando na ESPUM pesquisa a poluição atmosférica em ambientes de trabalho no Quebec

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Daniel Pereira Milazzo

A primeira vez que Alan Fleck saiu do Brasil não teve nada a ver com uma viagem de duas semanas a turismo. A estreia do passaporte marcou também o início de um projeto ambicioso: o doutorado na Escola de Saúde Pública da Université de Montréal (ESPUM).

Alan, quem é você?

Eu tenho 26 anos, venho de Porto Alegre. Fiz minha graduação em Biomedicina e tenho um mestrado em Ciências da Saúde, na área de Toxicologia. Os dois diplomas são da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Agora vim para Montreal para estudar os efeitos da poluição atmosférica num contexto de saúde pública

Mais especificamente, do que trata tua pesquisa?

No meu projeto, analiso as emissões de partículas finas e ultrafinas em ambientes de trabalho e os efeitos disso na inflamação pulmonar e na função pulmonar. Trabalhamos com soldadores, trabalhadores de minas profundas (que são expostos a motor a diesel) e pessoas que trabalham em fundições. 

Por que optou pela UdeM?

Eu estudei poluição atmosférica minha vida toda, então estava procurando um lugar fora do país para fazer um doutorado nessa área. Pesquisando currículos de pesquisadores de várias partes, cheguei à conclusão de que aqui seria o lugar ideal. Um fator importante foi a própria ESPUM. Ela é uma das maiores aglomerações de professores nesse meio no Canadá e tem um nome muito forte.

A escolha do orientador também foi importante?

Sim, procurei perfil por perfil em sites de várias universidades. Encontrei a pesquisadora Audrey Smargiassi e escrevi para ela, me apresentando. Mandei um breve currículo, minhas notas, meus cursos, meus diplomas, o que eu sabia fazer, o que eu queria fazer, por que eu estava interessado em fazer doutorado com ela e por que eu tinha me interessado pela pesquisa. Marcamos uma entrevista por Skype, da qual também participou o pesquisador Maximilien Debia. Hoje, os dois são meus orientadores.

Em quanto tempo você montou teu dossiê?

Cheguei aqui em agosto de 2016, mas a preparação começou pelo menos um ano antes. Comecei a procurar lugares para fazer o doutorado em agosto de 2015. Entrei em contato com meus orientadores em outubro, fiz a entrevista e, em janeiro de 2016, mandei todos os documentos e o projeto de pesquisa. A resposta veio em março. E depois tive que ver as questões burocráticas de visto, etc.

Você conseguiu bolsas de estudo?

Meus orientadores se propuseram a pagar meu salário durante três anos, pois eles tinham uma cota reservada para meu estudo. Mas além disso, no momento da minha inscrição, consegui duas bolsas de recrutamento: uma pela ESPUM e outra pelo Institut de recherche en santé publique (IRSPUM). Essas duas bolsas de recrutamento são daqui do Canadá, não venho com bolsa do Brasil. Também tenho a bolsa C, que me permite pagar o mesmo que pagam estudantes do Quebec.

Já conhecia algo sobre a vida em Montreal?

Eu nunca tinha saído do Brasil. Essa é minha primeira experiência de visitar um país ou morar fora. A cidade não foi o primeiro foco da minha escolha, mas a adaptação aqui é fácil, Montreal tem uma qualidade de vida e uma oferta de serviços muito boas. Houve a questão do primeiro inverno, mas aqui tu não sofre tanto pois não passa tanto tempo na rua. Em Porto Alegre, quando está 5° C na rua também está 5° C dentro de casa. Enquanto aqui, eles são muito mais preparados para isso.

Você já falava francês?

Estou estudando francês agora, vim apenas com o inglês. O programa e meus orientadores deixaram claro que eu não precisaria chegar já sabendo francês, mas que eu iria aprendendo ao longo do curso. 

E como você faz durante as aulas?

Elas são todas em francês, mas posso escrever os trabalhos, fazer os exercícios, contribuir durante as aulas, tudo em inglês. No início, era um pouco complicado de acompanhar. Para ler, eu não tinha tanta dificuldade, mas para escutar, eu entendia talvez 70% e tentava entender o resto pelo contexto, mas com o tempo você vai pegando.

Como você qualifica tua experiência acadêmica até aqui?

Creio que os primeiros meses são de adaptação. Não dá para esperar que você vai chegar aqui com 100% do teu potencial. O jeito de trabalhar é diferente, o professor tem seu ritmo... Acho que estou me adaptando bem. Estou bem satisfeito com minha escolha e esperançoso de que eu vá fazer um bom doutorado, com bastante conteúdo, com bastante força.

Você já tem planos para após o doutorado?

Desde que eu estava na graduação, sempre me interessou a carreira de pesquisador, de professor universitário, e é algo que ainda eu considero. Espero ter a oportunidade de fazer um pós-doutorado, mas não excluo um trabalho governamental em alguma instância ligada à área de saúde pública.

Que conselho você daria a outras pessoas que queiram estudar fora?

Acho que a parte mais difícil é realmente o primeiro passo. É tomar a decisão de entrar em contato e não saber se vão te aceitar, lidar com todo aquele medo inicial sobre tuas aptidões. Não se sinta intimidado com uma resposta negativa. As coisas não precisam dar certo da primeira vez, a questão é continuar tentando. 

Daniel Pereira Milazzo
#Journalisme #Littérature #Vélo

Daniel est journaliste et étudiant au doctorat en littérature comparée à l’Université de Montréal, où il se penche sur le rapport de l'humain à l'éternité. Éclectique, il aime autant Tintin que Spinoza, autant le football que la musique classique. Passionné des langues, il parle portugais, anglais, français et espagnol, comprend un peu d’italien et est en train d’apprendre l’allemand…