Apaixonados e determinados, Mariana e Guilherme nutrem sonhos com a ajuda da UdeM
- Brasil
Daniel Pereira Milazzo
No Canadá, fevereiro é o mês do dia dos namorados. Ou melhor, de Saint-Valentin, patrono dos apaixonados. Embora todo dia seja dia de celebrar o amor, nos calendários daqui um coração envolve o 14. Foi bem pertinho dessa data, num 16 de fevereiro, que começou a história de Guilherme Manhães e Mariana Quintaes. Alguns amigos em comum, um carnaval na praia de Araruama-RJ, aquele friozinho na barriga e já se vão treze anos juntos. “A gente já voltou namorando!”, recorda Mariana, responsável pelo primeiro flerte.
Perante o altar da pequenina capela de Nossa Senhora da Conceição, em Niterói-RJ, o namoro transformou-se em matrimônio em 2012. Uma inconfundível voz vinda de Montreal anunciou a chegada dos recém-casados na festa oferecida após a troca das alianças. “A gente entrou ao som de Comme des enfants, da Cœur de Pirate, que acabou virando a nossa música”, concordam.
Em abril de 2014, já como residentes permanentes do Canadá, eles aterrissaram em Montreal para dar início a uma nova etapa em suas vidas. No Brasil, ambos já eram profissionais. Ele já era formado em Direito desde 2007 pela Universidade Estácio de Sá e trabalhava com litígios em Direito Civil. Ela, formada em Nutrição em 2008 na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), fez uma especialização em Terapia Nutricional, área na qual trabalhava desde 2010.
“No meu primeiro dia aqui fiquei triste, meio deprimido, porque eu não tinha nada, nem o NAS [Numéro d’assurance sociale, equivalente ao CPF brasileiro], nem carteira de habilitação... Não tinha profissão, não tinha trabalho, não tinha nada! Mas no dia seguinte, já fui atrás dos documentos e naquela mesma semana já fiz o pedido de admissão na UdeM”, explica Guilherme, entre risos.
Quando decidiram imigrar, eles já sabiam que o primeiro passo para voltarem a exercer suas respectivas profissões seria validar a equivalência dos diplomas, o que significava voltar às fileiras universitárias. Os dois faziam questão de estudar em francês e escolheram a UdeM para concretizar essa etapa, cuja importância vai muito além do aspecto acadêmico.
“A UdeM foi muito importante para mim porque foi o primeiro vínculo institucional que eu tive no Quebec”, afirma Guilherme. Ele concluiu os 45 créditos necessários para obter a equivalência e, assim, o Certificado em Direito. A partir disso, pôde se dedicar ao curso e às provas do Barreau – a ordem profissional dos advogados do Quebec. Em maio de 2017, Guilherme passou no exame do Barreau de primeira, e hoje trabalha num escritório de advocacia em Montreal. Ele não descarta a ideia de no futuro fazer um mestrado em Direito privado comparado.
Depois de dois anos como estudante da UdeM, Mariana cumpriu os 18 créditos exigidos e quatro estágios para a validação do seu diploma de nutricionista. Em seguida, ela obteve junto ao conselho que regulamenta a área – chamado Ordre professionnel des diététistes du Québec – a permissão para recomeçar a praticar sua profissão. Todo o esforço está rendendo frutos. Mariana já trabalhou numa clínica voltada ao atendimento de brasileiros em Montreal e num organismo comunitário, onde ela desenvolveu um projeto de educação nutricional com crianças (ela ficou sabendo da vaga através do CÉSAR). Hoje Mariana trabalha atendendo pessoas idosas.
“A banana é igual aqui e no Brasil”, brinca, “então a nutrição é igual. Mas eu acho a equivalência importante e sou 100% a favor dos estágios porque a forma de trabalhar e os protocolos são diferentes. E também conheci pessoas que depois se dispuseram a me escrever cartas de referência, que me falaram que gostaram muito do meu desempenho, então isso para mim foi superimportante”.
O empenho de cada um em perseverar a fim de atingir os próprios objetivos profissionais alimenta o sonho comum do casal. “Entrar na universidade e concluir a equivalência é um passo a mais, é subir um degrau em busca do objetivo maior que é o de construir uma família e ficar aqui a longo prazo”, ressalva Mariana, que está grávida!
Planos, contratempos, objetivos, reviravoltas. Ninguém disse que o caminho seria fácil, e eles sabem disso. Mas unidos por esse imenso sentimento maior que nossa razão, Mariana e Guilherme compartilham a rotina de se ajudar um ao outro, de se motivar, de levantar a pessoa amada. “Estamos os dois na mesma situação. Tem dias que estamos mais chateados, outros que estamos mais animados, mas em casa a gente consegue equilibrar isso junto”.
Et on se prend la main, comme des enfants..., já dizia a música deles.
Daniel est journaliste et étudiant au doctorat en littérature comparée à l’Université de Montréal, où il se penche sur le rapport de l'humain à l'éternité. Éclectique, il aime autant Tintin que Spinoza, autant le football que la musique classique. Passionné des langues, il parle portugais, anglais, français et espagnol, comprend un peu d’italien et est en train d’apprendre l’allemand…